quarta-feira, 4 de setembro de 2013

As almas dos poetas

As almas dos poetas:

Teimam em cair sem discurso,
Vozes literárias, mudas…
Não evitam aquele percurso
Das pedras pontiagudas.

Enterradas no latifúndio,
Iluminadas pelo fogo que lavra
A morte, no seu gerúndio,
Que tropeça em cada palavra…

São melodias em contratempo
Quadras eternamente recordadas,
O silêncio é o viajante do tempo,
Testemunho das palavras guardadas.




Marco Mangas @ 4 de Setembro de 2013

sábado, 31 de agosto de 2013

Realidade que te envolve


Rios secos,
Assobios,
Silêncio,
Utopia…
Reviravolta,
Almas sombrias,
Dias fúteis,
Ausência de tempo…

Realidade que te envolve


Folhas caídas,
Índole perspectiva,
Nada…
Guerra,
Indiferença…
Demência,
Outra página evaporada,
Rara inexistência,
Armas de arremesso…

Realidade que te envolve

Poesia abandonada,
Outros tantos versos,
Ética desprezada,
Triste página,
Ilustração de grafite…
Complexidade do
Autor…



Marco Mangas @ 31 de Agosto de 2013

domingo, 18 de agosto de 2013

Ar(dor)



No meio de tantas, uma página invisível,
Uma hipérbole de espinhos no seu inverso,
Um (ar)dor, um prefixo de dor indescritível,
Naquele gesto atordoado de um incógnito verso.

Entre gemidos e ruídos sem compasso…
A descrição da dor é transparente,
(Embora presente) a rima em seu repasso,
(Ar)dor que não se vê, mas que se sente.

Seguindo em frente, desfolhando o caderno,
Entre soluços hesitantes, o receoso pleonasmo,
Agudos espinhos que perfuraram o esterno,
(Ar)dor que te vingas do poeta, com sarcasmo…



Marco Mangas @ 18 de Agosto de 2013

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

(De)golada prosa


(De)golada está a prosa,
O sonho, a esperança,
Restam as pétalas de uma rosa
E o murmúrio de uma criança.

O instrumental é a sua fonética,
O verso o seu conflito,
Uma garrafa é apenas estética,
Seu sabor, verdadeiro mito.

No silêncio, o romance é a ficção,
A literatura tornou-se poética,
O poema assume a sua função,
Uma quadra, outra degustação ecléctica.

(De)golada está a prosa,
Ingerida a sua lembrança,
Complemento de uma glosa,
Esta esquírola é a sua herança.



Marco Mangas @ 14 de Agosto de 2013

sábado, 10 de agosto de 2013

Palavras...

Para além das palavras cruéis
pertencentes a este ambívio lugar,
Encontras presente:
O esboço intemporal do que pisas,
das sombras nebulosas, aromáticas.
As palavras perpétuas, tácteis,
São como vultos esquartejados no ar…
Meu corpo declinado e assente,
Minhas mãos ocupadas, lisas,
que concebem esculturas monocromáticas.
A aridez é caracterizada nos papéis
repletos de palavras que desaguam neste mar,
neste pensamento incandescente…
A cortesia dos versos: são as cinzas
das palavras castradas, enigmáticas,
Das palavras insanas, versáteis…
Nesta efémera simbiose de escasso paladar,
É um relato de um rosto que não desmente.
Da palavra néscia à mais precisa,
Que formam o poema assim(táctico)…


Marco Mangas @ 8 de Agosto de 2013

domingo, 28 de julho de 2013

Ó tu, que te dignas escritor …


Ó tu, que te dignas escritor,
Poeta…
Tendes somente palavras?
Onde está o teu rosto cravado na pele,
Cicatrizado pelo tempo
e pelo crepúsculo…

Ó tu, que te dignas escritor,
Poeta…
Quero sustentar tua ferida,
Aquela que já lá não está.
Seu sangue venoso diluiu-se
na longitude do seu percurso…

Ó tu, que te dignas escritor,
Poeta…
Oferece-me o retrato
transfigurado daquele jardim,
Da tortura daquela lembrança
perplexa de sentimentos…

Ó tu, que te dignas escritor,
Poeta…
Onde sepultaste as cinzas
dos versos quebrados,
Traduzidos em silêncio,
Devastados…

Ó tu, que te dignas escritor,
Poeta…
Livremente, continuarás em busca
do que não viveste e do que não soletraste
até ao presente…
O teu suicídio…


Marco Mangas @ 27 de Julho de 2013

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Instante lapidado...


Ali foste uma alma nua e lapidada,
Onde os versos se soltaram,
O chão estava ensopado de lágrimas,
Ondas gritavam de emoções,
Horizontes dispersos,
… incandescentes,
Provocados pela agitação lunar,
Negros e sombrosos vultos,
Reflexos de um nada,
de um tudo…
Uma vela, uma luz acesa,
Um candeeiro apagado,
Uma voz que entoava ao longo da costa
O olhar é, nada mais que, a foto
Daquela miragem…
Do agora (queria eu dizer),
Do presente que me deixaste,
Mas que já é passado,
Dissolvido em cores e sentimentos,
Transformado em memórias,
…recordações…
Boas e más, brancas e negras,
Vermelhas, azuis, verdes, amarelas…
Todas as cores farão parte desta paleta,
Deste sempre e eterno instante lapidado…


 Marco Mangas @ 9 de Julho de 2013

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Movimento cíclico



Corre-me o sangue na página,
As letras pelas artérias,
No sentido da frase
(De baixo a cima)
Num enleio de sentidos, sopros…
Suspiros...
A palavra é o esguichar do silêncio,
Fluido, transparente…
Durante a queda, o sentido é recíproco,
A voz entra em decomposição,
O coração é sinónimo de vertigem,
Palpitação…
As fronteiras apagam-se,
O olhar torna-se cada vez mais vulnerável,
A raiz mais tenra,
O céu mais perto, mais ínfimo,
Mais turvo…
Mais dor…
(Mais só)
Outra mudança cíclica.

  
Marco Mangas @ 8 de Julho de 2013

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Rendido ao poema...



Descalço e quase desnudo,
A roupa foi substituída pelo suor,
Os poros, inocentes, dilatados,
No corpo cúmplice e febril…
Arrepios rendidos ao calor,
Ao sufoco incontestável,
Versos rendidos, suados,
A folha é cinza, poeira,
É água incolor, evaporada…
E agora?
Onde habitam as palavras destemidas?
Como deliro?
Onde me encosto?
Quando descanso?
Tragam gelo, para apaziguar o fogo,
Folhas de árvore, areia,
A minha sombra, o meu jazigo,
O meu paladar salgado,
Incompleto de letras insonsas…
A inquietude estrebucha no silêncio,
Em busca do oxigénio da noite,
Do desejo do mar,
Da ausência do calor,
Rendido ao poema…
À loucura…


Marco Mangas @ 10 de Julho de 2013

sábado, 6 de julho de 2013

Serão...



Serão…

Serão gritos,
Serão assobios,
Serão gaivotas?
Serão mitos,
Serão vultos,
Serão verdes,
Serão paisagens?
Serão choros,
Serão reflexos,
Serão sorrisos?
Serão assombrações,
Serão espinhos,
Serão pétalas,
Serão memórias?
Serão eternas?
Serão almas?
Serão silêncio…



Marco Mangas @ 16 de Janeiro de 2013

sábado, 22 de junho de 2013

Criança


Criança…
Solitária e… abandonada…
Porque constróis alicerces no meio da estrada?
Aí passam carros, não há esperança…!

Criança…
Triste… esfomeada…
O que escreves nessa rocha decapada?
Porque cantas?... Ninguém te alcança!
Criança…
Pálida… despreocupada…
O que sentes? – Nada, simplesmente nada…
Desce uma miragem… Uma luz de confiança!

Criança…
Silenciosa… memória desperdiçada…
Alegre, vive agora deitada, acompanhada…
Aqui jaz… Voz ténue e mansa…

Criança…


Marco Mangas @ 15 de Janeiro de2013

terça-feira, 18 de junho de 2013

Mais um…


Trago gestos inócuos,
Um toque de roxo avermelhado,
Tinto cheio, mais um…
No deserto, o cálice é ouro,
O tesouro dos que se dignam ao silêncio,
Dos que se limitam a viver de costas para o mundo…
Minhas mãos ocupadas, distantes…
Palavras salteadas procuram o oásis,
Sem (re)verso, ensopam-se no álcool,
Agitam o coração, as emoções…
Observo-me: sou eu sem desejar nada,
Somente lembranças…
Urge um nevoeiro que tapa o pálido luar,
Sinto um suor frio, mais um…
Tinto cheio, mais um…
Sabor a poesia, a monólogo, a surdez…


Marco Mangas @ 28 de Janeiro de2013

terça-feira, 4 de junho de 2013

Desassossego




Desassossego de palavras,
Histórias…
Memórias…
 Sentimentos acordados,
Momentos recordados.
Aqui estão, abraçados a mim,
Desordenados, empilhados,
Cor de vinho, sei lá… Cor de uva?
Algo me impede de ver o seu interior,
Algo me sapara de si,
Embora juntos, abraçados,
Descalços…


Marco Mangas @ 28 de Maio de 2013

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Uma rocha



Velha estátua de alicerces sombrios,
Sem vida, inócua de valores?
Desconhecida aos olhares do mundo,
Incompleta de palavras…
Nem uma sílaba na sua tonalidade,
Nenhum piscar de olhos,
Sorrisos, choros, vozes...?
Nada testemunhará…
Simplesmente uma rocha!

Marco Mangas @ 28 de Maio de 2013

terça-feira, 28 de maio de 2013

A indefinida definição


Escrever escrevendo
A indefinida definição,
Ser livre: é não ser eu,
sendo…
A palavra desconhecida,
O poema censurado,
A revolta liberal,
A indignação…
Aquele livro decretado!
Mais uma mote indefinida,
O neofascismo que me desapraz,
Que mascara a literatura,
Os verdadeiros…
Que borram os quadros pintados,
Logrados…
Foda-se!
Que se foda a definição.
Na palavra está a voz,
Na tela, a imaculada arte,
No rascunho a prespectiva de algo
definido, quiçá…
Manchado de sangue, certamente,
Suor, lágrimas também…
Antecipando o indefinido,
A indefinida definição desta realidade,
Deste futuro que se avizinha…



Marco Mangas @ 28 de Maio de 2013

quarta-feira, 22 de maio de 2013

São...




São riscos, são rabiscos,
São pedras atiradas à lava,
Madrugadas ébrias e frias,
Espetadas de basso…

São jazigos, sepulturas…
São gritos, vozes, sussurros!
Entre árvores arrombadas
Florescem punhais, pedras…

São orgias, violações,
São cancros, são pecados,
Chovem folhas, retratos ardidos,
Lágrimas pontiagudas…

São esboços de quem já foi,
São ossos de quem sorriu,
Do resto que ficou…
O copo permanece cheio!


Marco Mangas @ 22 de Maio de 2013




sexta-feira, 26 de abril de 2013

Vestíbulo de palavras?!?

Terei dito: atrás, actriz ou atroz…
Ou meramente pensado com minha voz?
Sem dar nem dor… Amar com amor!
Qual o significado do que digo, do que disse,
Do que dizes… Do que direis vós?!?








…(In)palavras…





                       …(Des)palavras?!?


Marco Mangas @ 25 de Abril de 2013

quinta-feira, 21 de março de 2013

...





São gritos,
A gentileza partiu…
Ouvidos feridos, sensíveis…
Um turbilhão da mente.
Do infinito, de boleia com o vento:
O eco em bicos de pés…
Imperiosas notas agudas,
Tão distantes… Tão próximas!
Apagam-se as marcas frescas
Da história,
Do recente passado,
Dos meus sentidos,
Das minhas delicadas recordações,
Outrora navegadas entre as ondas do tempo!
Foi varrido desta vida: O silêncio…
Minhas mãos… Minha sombra!
Meu presente…
Minha saudade…
Minhas raízes…

  
Marco Mangas @ 24 de Março de 2013

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Silêncio do meu sonho




Descanso em silêncio…
…No silêncio sou digno do som das palavras.
Só, neste instante, observando a multidão,
Realça-se o vazio que me intersectou,
A palavra mais pequena veio ao meu encontro,
Hoje, transmito a sua beleza ousada…
… e surpreendente,
Que mundo desproporcionado, absurdo e ilícito…
Existirá alguma razão deste meu sonho?
Desta minha loucura?


Marco Mangas @ 25 de Janeiro de 2013