quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Sentido da palavra



Queria decifrar dos teus lábios,
o beijo e a a luz do dia,
a razão da existência daquela pedra,
um olhar vago, encoberto , taciturno,
como se fosse uma presa degolada pelo medo,
sufocada pela sua própria respiração (…)

(…) não somos nada atrás da sombra,
terra (in)fértil,
incumbida de futilidade e desprezo.
Que sentido tem a palavra?


Marco Mangas @ 17 Dezembro de 2015

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Quero ser...


Quero ser por inteiro,
a raiz e a razão,
a sombra rasurada,
o ritual da (im)perfeição,
o subscrito,
a madrugada.

Quero ser o tempo
no passado,
o estame do profeta,
o chão nunca pisado,
o rosto da palavra,
o horizonte do poeta.

Marco Mangas

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Aroma de poesia



Entre anseios e afagos,
pedras frias, profanas, amargas,
vislumbra-se um mar ávido a Sul,
invocando a volúpia e o prazer,
traduzido por gestos que transpiram o seu sal
num deslizo vertical de ternura,
uma sensação estranha, pura,
que estrangula a voz e a palavra,
com um simples acenar de desejo,
sua nudez presencial,
aroma de poesia.

Marco Mangas

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Não posso


Não posso

Não posso odiar os dias,
a sombra das noites,
as reticências do amanhã

Não posso pontapear a vírgula
só porque tropecei no passado,
outra forma, outra falácia

Não posso beber a substância
que ainda procuro,
o reflexo dos meus sonhos

Não posso alimentar-me
das palavras
e da fome dos outros

Não posso esquecer a tua existência,
o teu sorriso
espelhado no meu olhar

Não posso, não posso
…mas posso fazer de conta
posso tudo e posso nada


Marco Mangas @ 07 Agosto 2015 

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Metamorfismo dialéctico



Diante este mar prodígio
de livros enclausurados,
sobrepostos  e entrelaçados ao horizonte,
desvendarei as palavras perdidas,
no outro lado da margem,
remarei contra a corrente literária,
rasgando a página,
decifrando o significado desta viagem.
Os remos continuam rasurando os corpos,
escarafuncham os versos,
tempestuosos e tenebrosos versos,
no processo do metamorfismo dialéctico.

Marco Mangas @ 30 Julho 2015

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Lucidez do poeta



Vislumbro um olhar de sul,
voz ténue e perfumada,
beijo suave, flor de sal.

Ardem meus olhos,
seda azul do mar, fantasia,
gotas de amor.

Silêncio no desejo,
amor d’ encanto,
ébrias madrugadas…

Lucidez do poeta.


Marco Mangas @ 29 de Julho de 2015

segunda-feira, 27 de abril de 2015

...continuarei


…continuarei

a pisar o chão e a cinza,
oscilando a sombra dos corpos,
evocando palavras vazias,
insaciáveis, suspeitas e sobrepostas
entre a névoa e o ruído côncavo,
movimento súbito e amargo.

a sarar as feridas do horizonte,
a tactear as cicatrizes da terra,
estilhaçando o olhar devastador
consumido pelo suor e pelo cansaço,
ao ritmo deste coração inerte
debruçado sobre o abismo.

a rasgar as páginas ímpares
reflectidas na sua assimetria,
silenciando o seu contorno
translúcido e existencial,
enaltecendo a palavra prenunciada
no limiar da tempestade.


Marco Mangas @ 27 de Abril de 2015

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Madrugada





Era madrugada,
e lá estava de braços ancorados à terra,
reflexo  perdido de um espelho árido
submerso no fundo do mar pleno,
adormecido pelo silêncio da noite,
rasgando todos os versos envelhecidos,
fragilidade corpórea…
Passaram horas, marés,
(outra alvorada)
e lá estou, fulcro da memória,
flores de pânico submersas,
ossos triturados de uma página,
conchas quebradas, vazias…

…matéria saboreada pelos olhares do sul.


 Marco Mangas

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Visão



Visão turva de uma miragem,
ante um corpo de pedra e pó,
numa encruzilhada carnal,
faminta, imperfeita e involuntária.
Os dias são perpétuos,
silhueta de um cortejo repetitivo
que inebria as horas inconscientes
deste singelo percurso,
prova de minha herança,
meu retrato grisalho...
Pretendo plagiar a visão
do alimento de uma árvore,
abrigo de um fruto efémero,
submisso ao seu tempo e à sua quadra,
remetido ao seu silêncio
leviano, fátuo, mas feliz…


Marco Mangas @ 17 de Abril de 2015


terça-feira, 7 de abril de 2015

Encanto


No encanto da sublime voz de sueste,
diante um mar tenebroso trajado de negro,
encontrei um passageiro disfarçado,
 um fingidor,
(en)coberto  de algodão, sódio e revolta,
arrastando todas as âncoras e amarras
ao seu melhor sabor
e prazer
amargo, bravio, incoerente,
que me apraz…
Mar d’encanto, figura do desejo
alimentado p’la força das palavras
que confrontam a  tempestade
com a sede de meus olhos,
enfrentando e devorando os socalcos da terra ,
incessante, sem dó, nem dor,
numa alucinação deslumbrante e voraz,
vertiginosas rajadas sem cor,
sombra do que é capaz,
este encanto…

Marco Mangas @ 7 Abril de 2015

quarta-feira, 18 de março de 2015

Pesadelo


Trago na memória
capítulos inertes deste lugar comum.

Ainda vislumbro o despertar das cortinas,
cercado pela luz do silêncio,
embaraçado em lágrimas secas
vertidas em chama amarga
de uma vida crua e vazia.

O grito era o alento suado
das manhãs pálidas e fiéis,
reflexo do espelho turvo
situado sobre a velha cómoda de pinho
que ainda tresanda a mofo.

Lá fora, numa azáfama,
os pássaros alimentavam suas crias,
crianças corriam e saltavam pelos canteiros,
transbordavam gargalhadas,
sorrisos severos e espontâneos.

E eu ali… sem fôlego, arqueado,
descalço, enrolado no andrajo,
a observar o meu próprio reflexo
em busca da chave
que abrirá a porta deste lugar secreto,
deste pesadelo de criança.


Marco Mangas @ 18 de Março de 2015

terça-feira, 17 de março de 2015

quinta-feira, 12 de março de 2015

Seiva da terra



Sou a seiva da terra molhada,
fruto da sementeira do passado,
gemido de minha própria sombra.

Quero ser a chama,
partículas de fogo e de cinza,
essência natural do destino,
o contraste da existência,
síntese das coisas
que se movem e se transformam.

Dentro deste casulo,
a mutação é recíproca,
o sal, o sol, o sangue…
                 - o corpo.
A palavra é o retrato
e o deslumbramento da matéria
que se gerou do chão pisado
pela voz e pelo processo
nesta terra feita de carne.



Marco Mangas @ 12 de Março de 2015

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

No semblante celeste


No semblante celeste
ergue-se um tronco,
uma voz fragmentária de ódio,
um silêncio de paz sem rumo,
um horizonte volúvel e fingidor.

Sua bagageira de pedra
suportada plo seu próprio dorso,
marcas de cinza na pele,
seiva do sopro do passado,
firmeza no seu olhar.

No instinto,
o reflexo e o cheiro da terra,
a penumbra hiante e selvagem,
o mosto que corre nas veias
de um corpo sereno e volátil.


Marco Mangas
@ Olhão, 16 de Fevereiro de 2015

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Procuro no horizonte


Procuro no horizonte,
um deserto sem areia,
o trilho de um sonho ardido,
as marcas de uma memória acesa,
uma montanha de palavras (sem oxigénio),
a emancipação das raízes embutidas
na terra que me viu nascer.

Sigo em busca do meu corpo,
sangue de minhas mãos,
vestígios do meu chapéu de couro,
aroma dos teus seios carnudos,
sombra do meu prazer…

Quero desvendar a origem da pegada,
a voz da matéria ténue e palpável,
alheia a todas as ondas do pretérito,
a todas as premonições da razão,
canto do meu cadáver absorto,
sepultado sob a laje.

Procuro no horizonte,
a moldura de oiro,
o retrato vivo do poema.


Marco Mangas

@ Olhão, 12 de Fevereiro de 2015

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

No (re)verso


No (re)verso…

Neutralizarei o sal,
as raízes mais profundas da terra,
as pedras do meu altar.

Converterei as águas do mar
de sul, em vinho doce, tinto,
sangue de minhas artérias…

A brisa não será mais que o olhar
eterno de minha aparição,
o sossego de um coração flácido,
corrompido, milagroso e ébrio.

No teu ventre, conceberei um verso,
sem rima, sem rosto, sem fim…
Herança do teu corpo,
teu sonho… meu ópio.


Marco Mangas @ 2 de Fevereiro de 2015


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O poema...


O poema…
A substância que alimenta o corpo,
que corrompe as águas espelhadas
(outrora) beijadas e adoradas
pelo seu próprio reflexo.

No horizonte…
Avista-se o rosto de uma jangada,
(um espectro no cimo da parábola)
concebida pelo tempo, pelo homem
e pelo nada.

No seu olhar,
uma combustão de sentimentos,
(…)
loucura, adrenalina, vertigem,
medo…

A morte
navega à bolina, num rumo sem fim,
de mãos dadas com o mar.

O seu leme
continua rasgando o espelho,
rasurando a palavra 
nesta inútil viagem de papel reciclado.


Marco Mangas in http://aequum-equidade.blogspot.pt/


@ Olhão, 28 de Janeiro de 2015