domingo, 28 de julho de 2013

Ó tu, que te dignas escritor …


Ó tu, que te dignas escritor,
Poeta…
Tendes somente palavras?
Onde está o teu rosto cravado na pele,
Cicatrizado pelo tempo
e pelo crepúsculo…

Ó tu, que te dignas escritor,
Poeta…
Quero sustentar tua ferida,
Aquela que já lá não está.
Seu sangue venoso diluiu-se
na longitude do seu percurso…

Ó tu, que te dignas escritor,
Poeta…
Oferece-me o retrato
transfigurado daquele jardim,
Da tortura daquela lembrança
perplexa de sentimentos…

Ó tu, que te dignas escritor,
Poeta…
Onde sepultaste as cinzas
dos versos quebrados,
Traduzidos em silêncio,
Devastados…

Ó tu, que te dignas escritor,
Poeta…
Livremente, continuarás em busca
do que não viveste e do que não soletraste
até ao presente…
O teu suicídio…


Marco Mangas @ 27 de Julho de 2013

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Instante lapidado...


Ali foste uma alma nua e lapidada,
Onde os versos se soltaram,
O chão estava ensopado de lágrimas,
Ondas gritavam de emoções,
Horizontes dispersos,
… incandescentes,
Provocados pela agitação lunar,
Negros e sombrosos vultos,
Reflexos de um nada,
de um tudo…
Uma vela, uma luz acesa,
Um candeeiro apagado,
Uma voz que entoava ao longo da costa
O olhar é, nada mais que, a foto
Daquela miragem…
Do agora (queria eu dizer),
Do presente que me deixaste,
Mas que já é passado,
Dissolvido em cores e sentimentos,
Transformado em memórias,
…recordações…
Boas e más, brancas e negras,
Vermelhas, azuis, verdes, amarelas…
Todas as cores farão parte desta paleta,
Deste sempre e eterno instante lapidado…


 Marco Mangas @ 9 de Julho de 2013

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Movimento cíclico



Corre-me o sangue na página,
As letras pelas artérias,
No sentido da frase
(De baixo a cima)
Num enleio de sentidos, sopros…
Suspiros...
A palavra é o esguichar do silêncio,
Fluido, transparente…
Durante a queda, o sentido é recíproco,
A voz entra em decomposição,
O coração é sinónimo de vertigem,
Palpitação…
As fronteiras apagam-se,
O olhar torna-se cada vez mais vulnerável,
A raiz mais tenra,
O céu mais perto, mais ínfimo,
Mais turvo…
Mais dor…
(Mais só)
Outra mudança cíclica.

  
Marco Mangas @ 8 de Julho de 2013

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Rendido ao poema...



Descalço e quase desnudo,
A roupa foi substituída pelo suor,
Os poros, inocentes, dilatados,
No corpo cúmplice e febril…
Arrepios rendidos ao calor,
Ao sufoco incontestável,
Versos rendidos, suados,
A folha é cinza, poeira,
É água incolor, evaporada…
E agora?
Onde habitam as palavras destemidas?
Como deliro?
Onde me encosto?
Quando descanso?
Tragam gelo, para apaziguar o fogo,
Folhas de árvore, areia,
A minha sombra, o meu jazigo,
O meu paladar salgado,
Incompleto de letras insonsas…
A inquietude estrebucha no silêncio,
Em busca do oxigénio da noite,
Do desejo do mar,
Da ausência do calor,
Rendido ao poema…
À loucura…


Marco Mangas @ 10 de Julho de 2013

sábado, 6 de julho de 2013

Serão...



Serão…

Serão gritos,
Serão assobios,
Serão gaivotas?
Serão mitos,
Serão vultos,
Serão verdes,
Serão paisagens?
Serão choros,
Serão reflexos,
Serão sorrisos?
Serão assombrações,
Serão espinhos,
Serão pétalas,
Serão memórias?
Serão eternas?
Serão almas?
Serão silêncio…



Marco Mangas @ 16 de Janeiro de 2013