sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Interrogação


Posso mergulhar na interrogação,
de corpo e alma,
sem apertar o nariz à analogia,
desinibir-me do metafísico,
dos contornos do poema,
sem ter de saltar pela janela,
ouvir ruídos a preto e branco,
expandir a chama interior,
assentar as partículas inflamáveis
do trauma das folhas rasgadas
e das alterações metabólicas,
culpabilizando o gerúndio da vida
sem a interrogar?


Marco Mangas @ 12 de Setembro de 2014

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Filme em género




Nesta música visualizo um filme,
um ponto de exclamação
e um contraponto alimentado
pelo seu género épico-lírico.
O relato de uma simbólica insensatez
projectada num ecrã colossal,
mesmo à medida da néscia popular
acorrentada à leviandade e frustração.
Adormeço e observo um mar vil
sugar toda a tecnologia excedente,
acabar com a poluição de mentes,
com a peçonha capital,
com a manipulação teatrada
e retratada pela (suposta) crise
utópica e inexistente.
Grito e escrevo para o povo:
Basta! Basta! Basta!
Basta de cuspirem para o chão,
e para o espelho que vos reflecte.
A vida é uma curta-metragem,
confrontada pela desigualdade
ininterrupta e manipulada.
Neste filme,
os holofotes apontam única e exclusivamente
para os protagonistas de sempre,
sintonizados no canal das políticas podres,  
animalescas e descartáveis.
O cidadão é o mero figurante.
O artista é apenas um ponto
final.


Marco Mangas @ 9 de Junho de 2014

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

( )



Longos caminhos traçados,
lavrados pela ganância desmedida,
a destruição de tudo o que compõe o poema,
sem limite e preconceito. 
Os gargalos são estrangulados
a sangue frio, jorram...
…ribeiros de palavras
que lambem a terra molhada,
em busca da foz, da liberdade
afogada na sua própria sede.
Cabeças caem na lama
 espezinhada pelo pretérito
e pelos que não se saciam.
Lá longe, no seu regaço,
está a matéria,
o instrumento da harmonia:
O Lutador, o Poeta, a Poesia.



Marco Mangas @ 8 de Setembro de 2014

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

"Metamorfosica(mente)" uma rocha


Metamorfosica(mente) uma rocha
não virgem,
semi-trajada de pureza,
incumbida pelas ondas do mar
e retirada do seu seio natural,
sem roupa, descalça,
sem rasto nem rumo...


Sabor a clorofila e sal,
sua primorosa cintura,
erodida a rigor,
forma assimétrica,
descendente de si própria,
de seu núcleo terrestre
listado, infértil e utópico.


...Indefesa, inanimada
sua respiração,
côr pálida e faminta,
memória vazia de afectos,
inútil e volátil corpo,
particularmente valioso,
apaixonado e fascinante


                     objecto da natureza morta.



Marco Mangas @ 3 de Setembro de 2014