quinta-feira, 22 de março de 2018

Nuvem


Sobrevoo no sonho,
ao invés da sombra e da terra fria,
os olhos são fúria,
requinte deste corpo febril,
de mãos dadas com o horizonte
transporto o contraste nas pupilas,
quero inverter as cores,
saborear os prazeres desalinhados,
distorcer os filamentos do silêncio,
alcançar a leviandade dos céus…

Perco as asas,
continuo a sobrevoar
na teimosia e na verticalidade do suspiro,
manuseando o esplendor dos corpos,
liberdade de pedra,
labirintos sangrentos que fustigam a carne
e antecipam a dor,
é ingreme a vertigem,
quero não ser,
quero continuar a alimentar o sonho.

Marco Mangas

segunda-feira, 5 de março de 2018

(Nestes dias)


(Nestes dias)
…observo a inquietude dos campos,
os ramos de árvore ganham vida,
rasgam-se corpos
que voam sem rumo pelas cidades
no desespero e seiva de dor.

(Nestes dias)
...observo as fogueiras apagadas na cinza,
camufladas pelo céu,
inebriadas pela força das tormentas
como as raízes que se escondem
na fertilidade da terra
e que procuram o seu (con)solo.

(Nestes dias)
…procuro o conforto dos pássaros,
os esconderijos de suas crias assustadas,
as árvores eram o seu único abrigo,
as sementes que já lá não estão (o seu alimento),
os dias de sol, o seu alento!

(Nestes dias)
observo, procuro e escrevo,
mas não ignoro as tempestades…


Marco Mangas