Querendo desmascarar a sombra,
soprei na surdez do passado,
que invade os muros da revolta.
Apenas colhi a voracidade
fingidora
de um ser comum e mortal,
matizes dos crepúsculos de outono,
a mistura de cheiros
voluptuosos das flores
que me tocam e acariciam a
pele…
As flores que se agasalham das
noites gélidas e húmidas,
querendo também desmascarar a
sombra,
trajando um sobretudo pálido
mas acolhedor,
contrastando com o negrume da noite,
enquanto outras se despem,
moribundas,
sem razão aparente…
Arrepio-me…
Arrepio-me e debruço-me sobre
elas…
Ainda consigo vislumbrar aquele
olhar ébrio
que azumbra, às vezes, o poeta,
aquele olhar que se confunde
com a alegria mefistofélica,
ainda consigo sentir o seu
fôlego,
um zumbido na terra,
uma dor aguçada no meu peito,
não consigo mergulhar na
indiferença…
Quero-te, flor!
Marco
Mangas