quinta-feira, 30 de junho de 2016

…dialogava eu (sozinho)




…dialogava eu (sozinho)
diante aqueles  rios de pedra,
que penetravam na terra seca,
rasgando a sua sede asfixiante,
sem leme e sem rumo,
à hora da cegueira da sombra,
enquanto reparava o casco do velho bote,
com versos súbitos,
cânticos que ainda lá perduram,
intimidade nas lágrimas
que ainda me rasuram o rosto…
Serei eu a pedra?
A sombra?
Farei parte da terra?
Onde está o leme?
O bote?
Os rios?!?
Nada aprisiona o poema…

Marco Mangas

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Tavira, cidade!


Tavira no seu pranto histórico,
magia de cultura e prazer,
espaço harmonioso, categórico,
pátria que me viu nascer…

Lugar sublime, metafórico,
suas trinta e sete igrejas para sorver,
seu património arquitectónico,
não há palavras para o descrever.

Uma lembrança que suscita saudade,
seu regaço é o meu conforto,
meu berço, serenidade!

Um misto de sentimentos, reciprocidade,
abraçada pela serra e pelo mar absorto,
aqui tão perto, Tavira, cidade!

Marco Mangas

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Rio Gilão



Corro no leito deste rio,
procuro a sombra,
as palavras que me acariciam,
hiante este desassossego,
levante prodígio,
embriagado,
procuro as pétalas de mim,
as margens de ti,
a foz deste agouro magistral,
onde desagua este rio Gilão…

Marco Mangas

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Pêndulo


Pêndulo de sentidos,
amarrado a uma corrente de palavras,
um maço de notas poéticas,
cantos renascentistas,
papéis ardidos,
velas queimadas,
consumismo, metamorfose…

Tudo convertido em cera
o tempo do passado,
a realidade presente,
o pretérito-perfeito recalcado.

Pêndulo de uma lembrança,
o vai-e-vem de um adulto-criança,
e suas memórias,
o vazio do corpo,
a vela consumida,
o gesto vazio.

O que ardeu já não se consome.

Marco Mangas