quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

No semblante celeste


No semblante celeste
ergue-se um tronco,
uma voz fragmentária de ódio,
um silêncio de paz sem rumo,
um horizonte volúvel e fingidor.

Sua bagageira de pedra
suportada plo seu próprio dorso,
marcas de cinza na pele,
seiva do sopro do passado,
firmeza no seu olhar.

No instinto,
o reflexo e o cheiro da terra,
a penumbra hiante e selvagem,
o mosto que corre nas veias
de um corpo sereno e volátil.


Marco Mangas
@ Olhão, 16 de Fevereiro de 2015

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Procuro no horizonte


Procuro no horizonte,
um deserto sem areia,
o trilho de um sonho ardido,
as marcas de uma memória acesa,
uma montanha de palavras (sem oxigénio),
a emancipação das raízes embutidas
na terra que me viu nascer.

Sigo em busca do meu corpo,
sangue de minhas mãos,
vestígios do meu chapéu de couro,
aroma dos teus seios carnudos,
sombra do meu prazer…

Quero desvendar a origem da pegada,
a voz da matéria ténue e palpável,
alheia a todas as ondas do pretérito,
a todas as premonições da razão,
canto do meu cadáver absorto,
sepultado sob a laje.

Procuro no horizonte,
a moldura de oiro,
o retrato vivo do poema.


Marco Mangas

@ Olhão, 12 de Fevereiro de 2015

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

No (re)verso


No (re)verso…

Neutralizarei o sal,
as raízes mais profundas da terra,
as pedras do meu altar.

Converterei as águas do mar
de sul, em vinho doce, tinto,
sangue de minhas artérias…

A brisa não será mais que o olhar
eterno de minha aparição,
o sossego de um coração flácido,
corrompido, milagroso e ébrio.

No teu ventre, conceberei um verso,
sem rima, sem rosto, sem fim…
Herança do teu corpo,
teu sonho… meu ópio.


Marco Mangas @ 2 de Fevereiro de 2015