terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Do silêncio germinou tua poesia


Perante a cor lívida do silêncio,
Sem arte, sem labareda,
Fecundei um verso, por inteiro,
Reflexo de seus olhos de seda.

Colhi uma flor, tísica, sem pétalas,
Sem estames, ausência de esplendor,
Reguei-lhe com meus lábios,
Seu mundo mudou de cor.

Picotei o rascunho de seu corpo
Plagiada ficou a realidade,
Soletrámos na luz e no desejo,
Penetrou-se no poema - fecundidade.

Contemplada a espuma do oceano,
Real e surreal sua fantasia,
Gerou-se uma nova semente (enlace)
Do silêncio germinou tua poesia.


Marco Mangas @ 9 de Dezembro de 2014


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Uma pedra (uma folha de pedra)


Uma pedra
(uma folha de pedra),
que navegava à matroca
na harmoniosa arfada marítima,
numa rota turva e incerta,
perante um  mar revolto e gélido.
As palavras que nela se fundiram
foram erodidas e apagadas
pelo tempo,
pelas correntes súbitas do passado…

A jusante, encontrei vestígios
de uma pedra nua,
sangue de  uma pedra minha,
lágrimas de uma pedra tua!

Uma pedra
(uma folha de pedra),
que beijou a terra
deixando fragmentos de sal,
alma do vento e da tempestade,
do impressionismo e composição,
memórias e sua definição…

Outra palavra no horizonte.

A sotavento, um sopro trémulo.
Uma voz emotiva.
O mar clama pelo seu pedaço,
fragmento do seu corpo,
que embaraço…
Naufragou o seu verso,
Sua pedra mais que preciosa,
A peça que falta no seu poema
(in)completo.



Marco Mangas @ 05 Dezembro de 2014