quarta-feira, 18 de março de 2015

Pesadelo


Trago na memória
capítulos inertes deste lugar comum.

Ainda vislumbro o despertar das cortinas,
cercado pela luz do silêncio,
embaraçado em lágrimas secas
vertidas em chama amarga
de uma vida crua e vazia.

O grito era o alento suado
das manhãs pálidas e fiéis,
reflexo do espelho turvo
situado sobre a velha cómoda de pinho
que ainda tresanda a mofo.

Lá fora, numa azáfama,
os pássaros alimentavam suas crias,
crianças corriam e saltavam pelos canteiros,
transbordavam gargalhadas,
sorrisos severos e espontâneos.

E eu ali… sem fôlego, arqueado,
descalço, enrolado no andrajo,
a observar o meu próprio reflexo
em busca da chave
que abrirá a porta deste lugar secreto,
deste pesadelo de criança.


Marco Mangas @ 18 de Março de 2015

terça-feira, 17 de março de 2015

quinta-feira, 12 de março de 2015

Seiva da terra



Sou a seiva da terra molhada,
fruto da sementeira do passado,
gemido de minha própria sombra.

Quero ser a chama,
partículas de fogo e de cinza,
essência natural do destino,
o contraste da existência,
síntese das coisas
que se movem e se transformam.

Dentro deste casulo,
a mutação é recíproca,
o sal, o sol, o sangue…
                 - o corpo.
A palavra é o retrato
e o deslumbramento da matéria
que se gerou do chão pisado
pela voz e pelo processo
nesta terra feita de carne.



Marco Mangas @ 12 de Março de 2015