terça-feira, 27 de novembro de 2018

Quero-te, flor!




Querendo desmascarar a sombra,
soprei na surdez do passado,
que invade os muros da revolta.
Apenas colhi a voracidade fingidora
de um ser comum e mortal,
matizes dos crepúsculos de outono,
a mistura de cheiros voluptuosos das flores
que me tocam e acariciam a pele…
As flores que se agasalham das noites gélidas e húmidas,
querendo também desmascarar a sombra,
trajando um sobretudo pálido mas acolhedor,
contrastando com o negrume da noite,
enquanto outras se despem, moribundas,
sem razão aparente…
Arrepio-me…
Arrepio-me e debruço-me sobre elas…
Ainda consigo vislumbrar aquele olhar ébrio
que azumbra, às vezes, o poeta,
aquele olhar que se confunde com a alegria mefistofélica,
ainda consigo sentir o seu fôlego,
um zumbido na terra,
uma dor aguçada no meu peito,
não consigo mergulhar na indiferença…
Quero-te, flor!

Marco Mangas